Durante sete dias, uma equipe de cinema filmou o cotidiano dos moradores do Edifício Master, situado em Copacabana, a um quarteirão da praia. O prédio tem 12 andares e 23 apartamentos por andar. Ao todo são 276 apartamentos conjugados, onde moram cerca de 500 pessoas. Eduardo Coutinho e sua equipe entrevistaram 37 moradores e conseguiram extrair histórias íntimas e reveladoras de suas vidas.
Ficha Técnica:
Título Original: Edifício Master
Gênero: Documentário
Duração: 110 min.
Lançamento no Brasil: 2002
Lançamento Comercial (estréia) : 22/11/2002
Estúdio: Videofilmes
Distribuição: Riofilme
Direção: Eduardo Coutinho
Produção: Maurício Andrade Ramos e João Moreira Salles
Diretora de Produção Beth Formagini
Co-produção vídeo Filmes Produções Artísticas
Fotografia: Jacques Cheuiche
Edição: Jordana Berg
Pesquisa: Consuelo Lins, Cristina Grumbach, Daniel Coutinho,Eliska Altman e Geraldo Pereira
Elenco:
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Prêmios :
• Festival de Gramado 2002
Melhor documentário.
• Grande Prêmio Cinema Brasil 2003
Melhor documentário,
Melhor diretor,
Melhor roteiro original.
• Festival de Havana 2003
Melhor documentário.
• Margarida de Prata 2003
Melhor documentário
• Troféu APCA 2003
Melhor documentário
• Mostra Internacional de Cinema São Paulo 2002
Prêmio da crítica de melhor documentário.
Curiosidades:
• O filme teve apenas 7 cópias e um publico de 86.483 pessoas.
Critica:
Edifício Master é um sopro de vida para o olhar do espectador e para a própria rede de imaginários da obra de Coutinho. Seus preceitos mais importantes, como a descrença no desvelamento de uma realidade, ou construção de um discurso de verdade objetiva, ressurgem revigorados nas vozes daquele novo espaço.
Nunca se tratando de um filme sobre A classe-média, Edifício Master, ao expandir o olhar de Coutinho para além dos clichês dos marginalizados, reintroduz seu cinema em sua energia mais marcante: a criação de um ritual de efemeridades discursivas, fragmentos vivos de humanidades em ebulição. A aproximação das humanidades através da diferença, o diálogo imagético com aqueles corredores de inúmeras portas que insinuam a multiplicação infinita de discursos.
Coutinho reincorpora com força total sua descrença na capturação das essências, costurando expressões que vão da emoção intuitiva (o choro de algumas personagens) a verdadeiras perfomances para a câmera. Para o cinema de Eduardo Coutinho não existe Verdade estática, apenas a Verdade do evento, da performance viva. O homem que canta My Way, a mulher que conta sobre um assalto, o discurso pseudo-institucional do síndico...todas essas vozes se emaranham e projetam na tela os rastros cinematográficos daquelas pessoas.
Vozes dissonantes se sucedem, da garota de programa à espanhola puritana, suas vozes não representam um objeto único, mas um exercício contínuo de interação. A pesquisa realizada por Consuelo Lins demonstra a importância dessa meticulosa metodologia do diretor, que começa pelo delineamento espaço-temporal restrito de sua interação. Para Coutinho não interessa descobrir, mapear, descrever – seu cinema se faz no encontro fortuito da urbanidade multi-discursiva. Como ele mesmo diz, ou se faz uma pesquisa de 7, 8 anos num lugar, ou joga-se quase cru sobre aquele espaço – o meio termo não existe, tem de ser 8 ou 80...
Como não lhe interessa ficar 8 anos pesquisando um espaço, acumulados todos os perigos que isso pode trazer, Coutinho opta pelo emergencial, pelo abrupto. E faz questão que seu filme registre justamente isto, esse evento especial que é o do encontro – o objeto de Edifício Master não são aquelas pessoas, mas o encontro daquele "fantasma" Coutinho com a voz e os gestos de seus personagens.
Mais uma obra-prima do diretor que vem mostrar que, muito além de "cagador de regras", como muitas vezes é acusado por diretores menos rigorosos, Coutinho é um metódico e técnico catalizador de imagens, que sabe se utilizar até mesmo de sua aparência de "bom velhinho" (como disse certa vez) para construir verdadeiras odes da precisão e do acaso. A Precisão e o Acaso, essas são as forças criativas que Coutinho sabe amalgamar como ninguém, não por um dom, mas por uma Ética criativa que vai muito além das estereotipias morais do "cuidado com o outro". A "Ética de Coutinho" é uma prática estética, um conjunto de postulados concretos, de princípios estéticos, que se conjugam geometricamente, produzindo uma atmosfera única.
A sensação de vida presente em Edifício Master se dá justamente porque o diretor não tenta captar a essência daquele espaço através do que seria um cotidiano comum ao disperso conceito de "classe média", mas se lança nas expressões verbalizadas e na gestualidade de seus personagens, fazendo-os únicos. Cada um deles, como um contador das histórias de si mesmo, transformam o filme num registro estético seminal da vida urbana brasileira: seus contrastes, suas semelhanças internas, seus aprisionamentos e liberdades. Uma vasta rede de práticas imaginárias pulsam descompassadas, e criam o ritmo do filme.
O Edifício Master não sintetiza todos os prédios, todas as cidades, toda a classe média...ele se expande, ele se insinua, ele se esboça. Funciona como um rastro de identificações e divergências, que conseguem incluir o espectador num amplo jogo de vozes e vontades. Sem que seja preciso se sentir um igual. É através da diferença que o Edifício Master, em Copacabana, no Rio de Janeiro, se faz igual. Igual e completamente diferente (num mesmo movimento) de todos os outros edifícios que possamos imaginar. Uma lição de dramaturgia. Uma lição de cinema.
(Texto: Felipe Bragança / Conta Campo)
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